Professora Maria Perpétua Teles Monteiro
mperpetuatm@yahoo.com.br

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

III FESTIVAL DE LITERATURA DE GARANHUNS "NORDESTINADAMENTE"

O III FESTIVAL DE LITERATURA DE GARANHUNS PRESTA HOMENAGEM A MARCUS ACCIOLY
O III Festival de Literatura de Garanhuns já consolidado como um dos maiores eventos da cidade e região ao prestar homenagem a marcus Accioly nos oferece a possibilidade de ampliar conhecimentos sobre este grande nome da literatura no estado de Pernambuco e nos possibilita, enquanto educadores, abrir novos espaços de discussão em sala de aula onde a poesia que evoca a alma brasileira se torna força e manifestação das tradições do nosso povo.
Marcus Moraes Accioly nasceu no Engenho Laureano, município de Aliança, Pernambuco, a 21 de janeiro de 1943.
Formou-se em Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, concluído em 1969. Tem o curso de mestrado em Letras, da Universidade Federal de Pernambuco (1980).
Foi vice-presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), seção Pernambuco e professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira da Universidade Federal de Pernambuco.
Obras: Cancioneiro (1968); Nordestinados – poemas-canção (1971); Xilografia (1974) ; Sísifo (1976); Poética (1977); Ó(de)Itabira (1980); Narciso (1984);
Íxion (1986); Guriatã (1986); Para(ti)nação (1986); Poética-Popular ; Érato
Latinoamérica; Louvação & Incelença; O Exílio da Canção.
“Trata-se dum domador de palavras, dum fascinado de todos os jogos que a boa Retórica, antiga e moderna, oferece aos artífices do encantamento por meio da expressão verbal. Marcus Accioly faz a coreografia de todos os ritmos, pratica as convenções e as audácias de todos os tempos.” (Fábio Lucas)
Nordestinados (1971)
Tem o Nordeste como tema, o autor desenvolveu essa obra compondo poemas em torno de vários cinco eixos temáticos: A Pedra Lavrada -onde se encontra uma descrição dos elementos geográficos e culturais do sertão; Sertão-Sertões -com poemas inspirados nos fatos históricos ocorridos em solo sertanejo); Feira de Pássaros –onde os poemas retratam os encantos do sertão, e; Poética dos Violeiros -onde as características dos diversos tipos de verso utilizados por violeiros em suas disputas são usados para compor o poema.

Ó(DE)ITABIRA
Rio de Janeiro: Livraria José Olimpio Editora/ INL, 1980.


VI

Ergui tua Torres
para o nunca mais:
pedra sobre pedra
(pedras e metais)
jaspe / lápis-lázuli
quartzos / cristais
ó
água-marinha
pérolas / corais
ó
ônix / sardônix
ametista / ágata
topázio / turquesa
turmalina / opala
cinábrio / crisólita
safira / granada
brilhante / berilo
ó
platina e prata

ergui tua Torre
para o nunca mais

(minas preciosas
de Minas Gerais)

Ouro Preto / ouro
pobre nos quintais

(galo sobre os quatro
pontos cardeais)

ergui tua Torre
onde não supus:
ó
jardins-Nordeste
que o areal produz:
xiquexiques / cactos
palmas / mulungus
cipós / caatanduvas
(mar de ouriços nus)
quipá / macambiras
(sói8s de espinhos crus)
coroas-de-frade
e
mandacarus

ergui tua Torre
onde não supus

(espelho de pedra
que cega e reluz)

há um Olho acima
do teu olho-luz

(para o olhar redondo
desce o Olhar-em-Cruz)


VIII

Ninguém não vê
o Carlos invisível
que atravessa montanhas invisível/mente
escreve em árvores
decifra esfinges
sobe nas pirâmides
escala o Empírio
desce ao fundo Tártaro
cruza desertos
constrói labirintos
voa sem asas
apaga a cor das léguas
percorre séculos
pesar grãos de areia
lava o rosto na luz

veste a roupa dos ventos
calça as pedras
curva as ondas do mar
mede o horizonte
roda o sol do equinócio
apressa o dia
guia estrelas e lua
inventa a noite
conversa com animais
imita os pássaros
bebe o orvalho e sereno
come flores
(ninguém não vê
o invisível Carlos)

ninguém não vê
o Carlos nunca visto
(pero um porteño peluquero
sabe
do seu retrato a óleo
ainda moço)
sabe
um carteiro
do seu domicílio
um alfaiate
das sua medidas
um vendedor-de-livros
do seu gosto
um gerente-de-Banco
do seu crédito
um moço-de-recado
do seu jeito
de mandar um bilhete
ou um poema
“na curva perigosa
d
o

setenta
ao amor que derrapa
em dor e pétala
(ninguém não vê
o nunca visto Carlos)


X

Era uma vez o mundo
de Carlinhos
que cresceu e está rapaz multinfância
mas vive nos caminhos
porque
nas rosas
sem memória e sem fragrância~
eppur si muove a infância



NAQUELE ESPAÇO ANTIGO
AGORA JÁ
TÃO DISTANTE
DE ITABIRA FAZ
TANTO TEMPO QUE OS ESPINHOS
CRESCERAM
NO CORAÇÃO



Era uma vez o mundo E HAVIA PAZ
NAQUELE ESPAÇO ANTIGO de Carlitos
que AGORA JÁ cresceu e está rapaz
TÃO DISTANTE mas vive nos caminhos
de pedra DE ITABIRA porque FAZ
TANTO TEMPO nas rosas QUE OS ESPINHOS
CRESCERAM sem memória e sem fragrância
NO CORAÇÃO eppur si muove a infância.


XII

Aprendeste a poética dos pássaros
ou o ritmo elementar das folhas
e das ondas idade
nos cabelos do tempo? Andrade

Foi preciso Itabira (a necessária
infância) o teu país de sete cores
arcos-íris
pavão
rosa-dos-ventos
(que em tua face estava colorida)

cão-cavalo-carneiro-cabra
e boi
aparando o capim à flor da água
ou ruminando o sono em pedra-viva

foi preciso o passado (o embuá
com mil pernas de anos
ou a serpente
arrastando na língua
o pó da idade)

foi preciso a esperança-fazendeira
onde o espelho do rio
(a sombra-imagem
dos avós e dos pais
era o teu rosto)



Há um peixe
que diz teu nome
Carlos nomenágua
na guelra trespassada
e pronuncia
o silêncio de sílabas
dos rios
e o ruído de números
nas pedras

existe um tronco
escrito
com teu nome
rolando ao lodo-verde
do oceano
e imprimindo na espuma
as suas bolhas
de ar e luz
suspensas pela água.

Publicado em fevereiro de 2008

ACESSE:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/marcus_accioly.html
http://portalamazonia.globo.com/anibal/fortuna2.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcus_Accioly#Nordestinados_.281971.29