Professora Maria Perpétua Teles Monteiro
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sábado, 3 de julho de 2010

APENAS UMA TORCEDORA BRASILEIRA


Hoje acordei cedo, corpo pesado, estranheza em mim. Foi o grito que, na garganta, ficou preso ontem quando o Brasil perdeu o jogo. Sim certamente foi isso. Levantei, vesti minha blusa verde da seleção, pois ontem havia usado a azul, fui visitar minhas sobrinhas de oito anos. As meninas jogavam vídeo-game com uns colegas. As bandeiras brasileiras já haviam sido retiradas. Perguntei se haviam assistido ao jogo. Falaram-me que sim.
- E como foi? Perguntei.
-Sei lá daquilo! Respondeu uma.
-Achei foi bom! Falou a outra.
Sem compreender muito bem a situação conversei um pouco com as duas e elas me repetiam algumas análises que haviam ouvido sobre o jogo pela mídia. Têm oito anos, falam como técnicos, mas não são torcedoras. Voltei, ainda com o sentimento de que algo me faltava ou estava demais em mim. Fui visitar minha sogra. Lá minhas cunhadas falavam dos nossos jogadores que ganham muito dinheiro e não fazem nada, que o técnico é um chato e que foi muito bom ter perdido e que boa mesmo é a Argentina de Maradona, um cara despojado.
Senti que minha falta cresceu um pouco mais. Lembrei, então, o jogo da nossa seleção contra a Costa do Marfim, meu filho caçula havia convidado os colegas para assistirem ao jogo em nosso apartamento. Enquanto acompanhava o jogo percebi um grupo de adolescentes, dentre os presentes, torcendo contra o Brasil. Não entendi. Que aconteceu? Elas haviam organizado um bolão de 1 R$( um real) e alguns meninos haviam apostado na Costa do Marfim e torciam contra o Brasil na perspectiva de ganharem mais ou menos 20R$(vinte reais). Não compreendendo aquilo me tornei a torcedora adolescente que fui. Nossa! Se já faço isso. Fiz muito mais. Gritei a todo o momento : Brasil! Brasil! Brasil! Brasil, meu Brasil! Brasil - brasileiro!- Bem, não houve alguém para se opor a mim. Ganhei adeptos. Agora possivelmente eles estão tão tristes como eu estou. O HEXA não veio. Mas, e daí? Nós nos reunimos pela mesma razão- torcer pelo Brasil.
Eu saí hoje para falar sobre isso. Mas ninguém tinha nada a dizer que não tenha ouvido dos especialistas, dos artistas, dos famosos, dos analistas, etc,etc,etc. E eu? Eu só queria falar com algum torcedor, um torcedor como eu. Alguém que sabe que jogo é jogo e que esse jogo é FUTEBOL. Não é ciência, nem devia ser política. Um torcedor que na hora do jogo quer ter uma folga das questões sócio-econômicas, culturais e históricas tão revisitadas , às vezes tão cansativas e desconcentrantes. Alguém que não queira discutir minha alma de torcedor nem, tão exageradamente, a alma do jogador. Alguém que compreende que jogo, jogo se curte, se sente. Agente sorrir e grita de alegria quando ganha, e chora de tristeza quando perde. Tudo normal. Minutos depois agente segue aguardando mais quatro anos para viver tudo de novo. Alegrias ou tristezas. O que fica de tantas emoções diferentes? O sentido que construímos com nossos pares. A oportunidade que temos de nos unir enquanto povo, de alimentar, também, por esse caminho, o sentido de nação – Ama com orgulho a TERRA em que nascestes. Eu aprendi. Eu ensino. Eu vivo. E acredito que a maioria do povo brasileiro quando, copa após copa, sai às ruas para torcer pela seleção o faz com o mesmo sentimento. Não importa se eu queria Ronaldinho, se meus alunos queriam Neymar. Uma seleção foi formada para nos representar e nós vamos juntos com ela, isso é torcer. Foi isso que ensinei aos meus filhos: vestir a camisa. É assim que entendo, compreendo-me e construo o sentimento de pertencimento.
Voltei. O jogo Argentina X Alemanha já havia começado e a Argentina perdia de 3. Nada tão interessante até que escuto a voz de um argentino chamado SORIM que ao ser interpelado pelo locutor sobre sua seleção ensinou muito do meu sentimento, o sentimento de pertencimento sem desejar posse, o sentimento sem ranço, o sentimento de respeito, confiança e dignidade frente à adversidade. Foi de SORIM que ouvi: -“ Agente tinha muita expectativa com esse time. Isso dói na alma e no coração, mas vamos em frente, tenho muito orgulho de ser Argentino”. Ouvi o que queria dizer, ouvi um torcedor que não se deixou manipular e que se manteve fiel aos seus sentimentos. Por isso faço minha a força de suas palavras:“Criei muita expectativa com essa seleção e sempre vou criar com qualquer seleção brasileira independente de... Perder dói na alma e no coração. Mas, vamos em frente. Sim nós vamos em frente! TENHO MUITO ORGULHO DE SER BRASILEIRA, de assumir vários papéis, entre eles, a de torcedora, apenas uma torcedora ( mesmo que nesse momento estejam me convidando a torcer por outra seleção, qualquer uma. Será que não sabem que torcer é um caso de amor?) e como tal, se pudesse eu seria aquela família que solitariamente dava tchau à seleção na África, sim, como eles eu estaria lá, eu e toda minha família tentando dizer aos jogadores “vocês não estavam sós”. Se eu pudesse iria receber os jogadores e abraçá-los como fizeram os torcedores chilenos e como possivelmente farão os argentinos. Se eu pudesse diria a Kaká que os propósitos de Deus para os seus são bem diferentes; diria a Lúcio, a Júlio César e a todos os outros que não há derrota na batalha que confirma a nossa dignidade, diria a Robinho que não simpatizava muito com ele, mas que o respeito como símbolo do meu país. Diria a Felipe Melo que a vida nos traz oportunidades para aprender e que aprender é um imperativo no desenvolvimento humano. Diria a Dunga que ser Líder não é fácil, mas é para quem tem coragem e sabe ser ético. Abraçaria a todos como mãe, talvez como a mãe de Maicon e diria bem vindos. SEJA BEM-VINDA SELEÇÃO! 2014 está chegando e, se deixarem , achará o que somos: TORCEDORES vibrantes e um povo emotivo e orgulho de ser brasileiro sim, graças a Deus.

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