Professora Maria Perpétua Teles Monteiro
mperpetuatm@yahoo.com.br

domingo, 4 de maio de 2008

A TRAIÇÃO DAS IMAGENS

O que é, o que é? Um quadro: Os dois mistérios. Imagens Falam? Sigam as nuvens de fumaça... Que nuvens... Que fumaça? Fumaça de quê?

René Magritte -Les Deux Mystéres, 1966
O QUE VOCÊ ESTÁ VENDO?
UM CACHIMBO...UM CACHIMBO NO AR...UM CACHIMBO NO AR?

O que a imagem de magritte lhe sugeriu? Seja qual for a idéia, com certeza essa impressão e as seguintes serão influenciadas por conhecimentos anteriores. O cachimbo só poderia ser compreendido por quem já havia visto um. Do mesmo modo só quem já sentiu o cheiro do fumo poderia atualizar esse odor e quase senti-lo. Nosso olhar debruçado sobre uma obra é fruto de uma história pessoal e única, vivida em determinada sociedade, época e cultura. A sua primeira impressão, fruto de suas referências pessoais e culturais, pode ter sido ampliada pelas referências dadas logo abaixo, por colegas, etc. É possível que você tenha visto com estranheza o cachimbo no ar. Por que estaria ali, voando? Como seres humanos procuramos critérios e princípios para compreender o que vemos. Foram os gregos que primeiro se preocuparam em compreender o princípio da representação, traduzido pelo naturalismo que a obra apresentava fruto da habilidade do artista. Esse princípio se fundamentava no conceito de mimese (do grego mimesis), que significa “imitação". Com o tempo a imitação foi ganhando um sentido que dominou o pensamento ocidental sobre as artes visuais: o seu caráter de réplica exata. Para o filósofo grego Platão, cabia aos homens apenas a produção de mimeses, simulacros, mera aparência, pois a criação perfeita seria possível apenas para o Demiurgo, o Deus que cria o universo. Para Aristóteles, discípulo de Platão, o conceito de mimese estava ligado à idéia de reprodução seletiva. É como se o artista, com sua techné, buscasse o mais característico de uma pessoa ou coisa, criando um realismo sublinhado. Porém, quando o leitor, mesmo uma criança, lê a cena, seleciona atribuindo significados. A arte, pois, não imita, recria. Ela cria algo novo porque não é cópia ou pura reprodução, mas a representação simbólica de objetos e idéias. Ainda hoje, resistimos à obra de arte que não reproduza o mundo visível. Talvez por isso você tenha estranhado o cachimbo voando. Um outro aspecto que pode ter chamado sua atenção: dentro da moldura está escrito em francês: Ceci n'est pas une pipe, ou seja, "Isto não é um cachimbo". Podemos pensar, então que é outra coisa? Um berrante? Uma tromba de elefante? Um sifão de pia? Um bico de chaleira? Sob essa lógica, quando entendemos a representação artística somente como uma cópia do mundo real e porque isto não é um cachimbo, vamos tentando adivinhar, atribuindo outros significados àquela forma, mesmo sendo de um cachimbo. Magritte nos provoca uma reflexão sobre essa lógica comumente usada, quando cria em seu quadro a ambigüidade entre a imagem e a palavra. Observando mais atentamente, vemos um quadro dentro de um quadro. Esses indícios vão dando pistas para que possamos encontrar os possíveis significados da obra. A leitura desses indícios podem nos levar a múltiplas interpretações. Magritte foi o pintor surrealista que mais aprofundou a questão da ambigüidade entre imagem e palavra. Entre 1928-29 e 1966 Magritte produziu a série de obras ISTO NÂO É... Chamada por ele “A traição das imagens". O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) escreveu um livro discutindo os enigmas do quadro: Isto não é um cachimbo, que apresenta semelhanças com os dois mistérios. Neste estudo Foucault constata que há dois cachimbos. Um deles se mostra aprisionado com sua legenda na superfície claramente delimitada de um quadro emoldurado. Considerando a obra como pintura, as letras são apenas as imagens das letras, eternizadas pela obra de arte. Considerando a figura como quadro-negro, ela é apenas a continuação didática de um discurso, a lição do mestre que apresenta a imagem e seu enunciado. A letra caprichada do calígrafo, do professor, entretanto, não confirma o que também estamos habituados a ver em muitos quadros-negros e em cartilhas e livros: "Isto não é um cachimbo. Na verdade "Isto é um desenho de um cachimbo". Há oposição entre a flutuação não localizada do cachimbo do alto e a situação definida no cachimbo de baixo. É a mesma ambigüidade que há entre a linguagem imagética e a linguagem escrita. Afirmação e negação, oposição e cumplicidade. Pensamentos tornados visíveis. Magritte parece querer discutir a representação na arte, e o fez pela metalinguagem. Ele atualiza a discussão sobre mimese, sobre o modo simbólico do pensar a arte.

ISTO NÃO É UM CACHIMBO foi o que Magritte escreveu abaixo da gravura. Sobre isto ele mesmo falou: "O famoso cachimbo... Como fui censurado por isso! E, entretanto... Vocês podem encher de fumo meu cachimbo? Não, não é mesmo”? Portanto, “se “eu tivesse escrito sob meu quadro:” Isto é um cachimbo”, eu teria mentido. (apud Foucault, 1988)
Bibliografia

MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do Ensino de Arte: a língua do mundo - poetizar, fruir e conhecer.São Paulo: FTD, 1998.

FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. Rio de janeiro. Paz e Terra, 1988.

ACESSE:

http://www.ucm.es/info/especulo/numero27/magritte.html

OFICINA E HISTÓRIA DAS MÁSCARAS

AS MÁSCARAS NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Realizamos, com os alunos dos primeiros anos, uma oficina de arte onde conhecimentos teóricos e práticos foram adquiridos sobre a presença e importância das máscaras na História da humanidade e em nossas vidas.
A atividade foi organizada em três etapas: fundamentação teórica, atividades práticas(confecção) e tempestade de idéias(discussão, dramatização e emprego social da máscara no sentido denotativo e conotativo)
Considerando o momento de mudança do prédio da equipe CEEG a atividade foi realizada às vezes na sala de aula, outras no pátio, outras na quadra. As fotos disponibilizadas apresentam atividades das diferentes turmas.
1ª ETAPA - Fundamentação teórica sobre a História das máscaras. Destacamos com maior ênfase os povos indígenas, africanos, greco-romanos(por se tratarem de conteúdos do 1ª ano) e a máscara na cultura brasileira.

As máscaras sempre estiveram presentes em todas as culturas de todos os tempos.A utilização de máscaras pelos povos primitivos centrava-se no imaginário dos rituais. De lá para cá, foram surgindo muitas outras faces, com cores, materiais, técnicas e formatos diferentes.Na África, elas são esculpidas em madeira e pintadas. Já os índios americanos fazem-nas de couro pintado e adornos de penas.Na Oceania, são feitas de conchas e madeira e com madrepérolas incrustadas. Existe um tipo muito antigo de máscara que é aquela desenhada no próprio rosto com tintas especiais, maquiagens e pinturas. Este tipo é muito utilizado pelos índios e pelos africanos nos seus rituais religiosos, de guerra, festas , etc.
Na Antiguidade Clássica, a civilização grego romana utilizava as máscaras para as comemorações aos deuses depois criaram máscaras para as tragédias a as comédias. As principais cidades gregas e romanas tinham teatros de grandes proporções. No teatro medieval, os atores utilizavam as máscaras para encenar as moralidades, os autos e os mistérios. Temáticas centradas nas passagens da Bíblia e no temor ao céu e ao inferno davam origem a cenários bem desenhados, efeitos especiais de fumaça e fogo. Nesse universo sobrenatural, as máscaras representavam anjos ou demônios estilizados por seres aterrozantes com nariz de proco, cifres de boi, etc.

As máscaras também foram ricamente exploradas nas culturas orientais do Japão e da China. No Japão por exemplo, os atores usavam máscaras de madeira, cuja função era identificar os papéis dos personagens. Um dos mais belos exemplos da riqueza dessa arte é a ópera chinesa. Nesse espatáculo, dança, música e encenações estão intimamente ligados ao figurino e ás máscaras as quais eram pintadas no próprio rosto dos atores. As mulheres não podiam representar e até 1911, eram os homens que faziam os papéis femininos. Ainda existia o Teatro Cabúqui, no qual os elementos da natureza eram deuses e deusas interagindo com os mortais. Esta forma de espetáculo teatral, criada e representada pelas mulheres, tornou-se proibida por ser considerada leviana. Quando voltou a ser permitida, todos os personagens eram encenados somente por homens. Nesse espetáculo as cores e as formas têm simbologias especifica que caracteriza a personalidade e os sentimentos dos personagens. Veja alguns significados das cores na cultura oriental:o amarelo designa o calculista; o verde, o orgulhoso; o branco mate, a atraição;o negro, a lealdade e a honestidade; a prata, Buda e o sobrenatural; o vermelho, força e poder; o azul, coragem. As máscaras criadas com formas simples, representam os nobres; as com linhas assimétricas, os malvados.

No Renascimento, a busca pela sobrevivência e o fortalecimento da realeza levaram os atores a criarem as primeiras companhias de teatro profissional dando origem a uma nova forma de representação teatral a chamada Commedia dell'arte. Isto ocorreu na Itália e espalhou-se por diversos países. O ator substituiu os trovadores medievais e pela promeira vez as mulheres subiram ao palco. Foi uma revolução do popular que acabou prevalecendo sobre a escola Clássica do teatro romano. Nas apresentações os atores usavam figurino e máscaras apesar da igreja proibir. Os atores, rebeldes, continuavam a usá-las e por isso muitos tiveram sua línguas cortadas. Os personagens da Commedia dell'arte são característicos do carnaval, pois fazem uma crítica bem humorada a tipos característicos da sociedade. entre eles, os mais conhecidos são pierrô, arlequim e colombina.
Estas máscaras de carnaval chegaram ao Brasil no século XIX, encarregadas de expressar mitos, crítica social, ironia em relação às dificuldades cotidianas, enfim, desejos do imaginário. Estas máscaras de cunho artístico encontraram no Brasil outras de caráter ritualístico, mágico-religio, introduzidas pelos cultos africanos. As máscaras da África não traduziam a emoção do indivíduo; não era o retrato do homem que teme, que combate, que morre, mas era, sim, o próprio temor, a guerra, a morte. As máscaras usadas em rituais primavam pela intensa expressividade e serviam como mediação entre a esfera sobrenatural e a natural. Estas só podiam ser produzidas com autorização do chefe religioso por um escultor iniciado na magia e que antes submetia-se a um rito de purificação. Nem todas as madeiras eram utilizadas em razão das qualidades negativas atribuídas a determinadas plantas, nas quais habitariam os espíritos malignos, o que comprometeria a eficácia da máscara. Estas crenças chegaram ao Brasil através dos escravos e serviam para garantir a adaptação do indivíduo à comunidade.
Havia também as máscaras usadas pelos índios nas cerimônias de iniciação, culto à fertilidade e outras manifestações religiosas. Algumas representavam animais e forças da natureza, como raios, chuvas e trovões. A confecção destas máscaras era de caráter coletivo. O material usado, como cascas de árvores, resina e até madeira, eram considerados sagrados. Atualmente o folclore em geral por vezes resgata um pouco todas estas máscaras para caracterizar personagens e relembrar a história de uma comunidade. O folclore brasileiro, movimentado e plástico, utiliza as máscaras justamente para manter tradições; é uma espécie de memória histórica, que garante ainda o exercício da fantasia. O teatro também tem recriado as máscaras cada vez com mais freqüência. Para o homem de hoje, as máscaras deixaram de ter um sentido puramente mágico para assumir uma função de disfarce psicológico, possibilitando o anonimato, ou seja, é como se ele pudesse esconder sua verdadeira face e adquirir total liberdade em um mundo tão complexo.

2ª ETAPA - Confecção e pintura das máscaras.

Foram oferecidos aos alunos dois modelos: um de máscara para ser feita com atadura com gesso e outra com bola de sopro com papel picotado colado sobre a bola. Revisamos no momento, da pintura, os fundamentos sobre as cores e suas possibilidades de composição.
Máscaras com atadura de gesso
Materiais:
  • Atadura gessada(vendida em farmácias. Preço médio R$ 3,00)
  • Folhas de jornal ou papel manilha, revistas
  • Cola branca
  • Bacia com água
  • Massa corrida para interiores(não usamos)
  • Lixa
  • Tinta
  • A turma foi organizada em duplas. Os alunos foram orientados a cortarem a atadura em pequenos pedaços(4cmx2cm) e a mergulhar os pedaços numa bacia com água; a amarrarem uma fita no alto da testa para não sujar o cabelo; a cobrir o rosto do colega com a atadura, deixando livre os olhos e as narinas, também a boca.
  • Esperar aproximadamente cinco minutos; a soltar a máscara que se descola facilmente com o movimento da bochecha e da testa.




    Os alunos devem lavar o rosto, em seguida decorar ou pintar a máscara.

    Obs:os alunos foram organizados em duplas para compra do material(R$ 3,50).Após as orientações iniciais um aluno moldou a máscara no rosto do outro.

    Utilizamos as máscaras confeccionadas em atividade de descontração propondo um jogo dramático(dinâmica).

    Realizamos uma roda de conversa para refletirmos a presença da máscara no dia-a-dia das pessoas considerando o questionamento: "O que é viver usando máscaras". A partir da Dinâmica o "nó humano" iniciamos nossas reflexões(Aqui a palavra máscara empregada no sentido figurativo).




    Após essas atividades os alunos foram organizados em grupos para, através de dramatizações, representarem situações do cotidiano em que as pessoas costumam "usar máscaras" e quais as causas e consequências disso.
    Para as apresentações cada grupo produziu seu texto sobre um assunto que envolveu, suas idéias,sobre a máscara na sociedade.Algumas das temáticas propostas pelos estudantes:
    Tema: O dilema humano
    História das máscaras(recontada pelas máscaras)
    tema: Gravidez na adolescência(Adolescente é enganada pelo namorado fingido e engravida. No desespero encontra uma amiga sincera que lhe ajuda).
    Tema: A violência policial no Brasil e a máscara dos discursos na defesa do cidadão.
    Tema: traição conjugal
    Tema: a realidade do jeitinho brasileiro.
    Tema: As duas faces da vida
    Após a apresentações realizamos círculos de debate para ampliar a compreensão sobre os temas propostos nas apresentações.





















    Alguns alunos doaram as suas máscaras para as crianças da Creche (Projeto CEEG solidário) outros levaram para casa como objeto de decoração, outros guardaram para o carnaval. Se a atividade nos proporcionou momentos valiosos de descontração, reflexão, ação e mudança de atitude, nos proporcionou, também, algo muito mais valioso: ver o sorriso das crianças da Creche ao receberem as máscaras e com elas bricarem num jogo de interpretação e faz de conta que a viver é sempre estar feliz.



    Sugestão de música para trabalhar a atividade e tema "Máscara"
    Noite dos Mascarados
    Chico Buarque
    Composição: Chico Buarque
    - Quem é você?-
    Adivinha se gosta de mim
    Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim:
    - Quem é você, diga logo...
    - ...que eu quero saber o seu jogo
    - ...que eu quero morrer no seu bloco...
    - ...que eu quero me arder no seu fogo
    - Eu sou seresteiro, poeta e cantor-
    O meu tempo inteiro, só zombo do amor-
    Eu tenho um pandeiro
    - Só quero um violão
    - Eu nado em dinheiro
    - Não tenho um tostão...
    Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
    - Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar
    - Eu sou tão menina
    - Meu tempo passou
    - Eu sou colombina
    - Eu sou pierrô
    Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
    Amanhã tudo volta ao normal
    Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar
    Que hoje eu sou da maneira que você me quer
    O que você pedir eu lhe dou
    Seja você quem for, seja o que Deus quiser
    Seja você quem for, seja o que Deus quiser
    Poesia para refletir e discutir o tema "Máscara"
    Autopsicografia
    Fernando Pessoa
    O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.
    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Bibliografia:Apostilhas POSITIVO.6ª série do Ensino Funadamental. Artes.p.16 e 17.

http://www.secrel.com.br/jpoesia/fpesso01.html