Professora Maria Perpétua Teles Monteiro
mperpetuatm@yahoo.com.br

domingo, 30 de janeiro de 2011

DOMINGO

O domingo avisa
Incompletude
Espaços vazios.
Multidões e ações
Realizações.
Uma não...
Uma não será vivida
Que fazer?
Procura-se
Por um dia de domingo
Que se foi.
Num sono inquieto
Que não disfarça o silêncio
Da multidão que éramos.

Perpétua Teles

CONJETURA

Às vezes a gente fica triste, sente vergonha de participar...
Perguntamo-nos porque e em que contribuímos. Como contribuímos?
As coisas que fazem parte do processo, da história, não podem ser respondidas agora.
Penso que só o trabalho da formiga e da cigarra, juntos, poderá apontar caminhos.
Então vamos lá...
Ora uma... Ora outra...
No tempo que a tudo muda...
Para manter uma estrutura que insiste em se renovar MASCARANDO-SE para não mudar nunca.

Perpétua Teles

QUASE QUIEXA

NENHUM ARDOR DE AMOR...
NADA QUEIMA.
UM DIA HOUVE...
PRURIDO...
GRASSOU...
E FUI MUITO...
UM TANTO DE TUDO.
SE N'ALMA ESTÁ...
QUANDO SE TORNARÁ EXPLOSÃO
E DEIXARÁ DE SER EXÍLIO?

Perpétua Teles

tessitura

Comum?
Tecer vidas
Entrelaçar fios de sonhos e ideais
Agir para que eles se toquem
Se percebam
Se atravessem...
Tecer a vida
Mais que a nota musical
Canto de encontro
Poesia
Fios de alegria
Carinho, cuidado, amor, teia, futuro
Visões de dor, passadas e presentes
Tão próximas
Caminhos
Laços
Enlaces
Tranças
Armadilhas
Possibilidades
Tecer...
Alegoria?
Fantasia?
Realidade.
Necessidade.
Tecer
Aspergir
Perceber-se
Parte de um todo
Comprometer-se
Para que o desencontro não tome feições de verdade,
Mas encontro, o cerne da vida,
No outro
Tão próximo e tão distante
Semear
Acreditando no chão.

Perpétua Teles

POIS BEM...

Há momentos que a solidão é uma realidade...

(Se a pior solidão que existe é darmo-nos conta de que as pessoas são idiotas.
(Gonzalo Torrente Ballester)

Como não cuspir na cara dos cretinos?
Suportar os mentirosos?
Ouvir os demagogos?
Tolerar os que se dizem politicamente corretos?
Conviver...
Identificar os marginais?
Tratar...
Justificar os assassinos?
Não culpar os indiferentes?
Não responsabilizar os omissos?
Não sentir medo dos covardes?
Odiar...
Perdoar...
Melhor e pior
É ter uma resposta
É ser capaz de sorrir
Pensar que a idade não envelhece
A dor acrescenta
E achar graça na graça das crianças
E vida na irreverência do jovem
E o encanto pela vida ser tão natural
Quanto a brisa que toca suave meu rosto).
...e a multidão também.

Perpétua Teles

ESTRANHEZA...

Tenho visto e vivido muitas coisas
Tantas delas me corroem
Sufocam-me, causam dor.
Mas algumas agente aprende,
A elas se rende.
Torna-se, transforma-se
E não esquece...
Perpetua-se.
Por que ao mais forte,
o imperativo, permanecer.
Lágrima cai
suor se renova
No sangue que se deixou derramar.
Fazendo-me vê...

"Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
[...]
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
[...]
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
é a coisa mais certa de todas as coisas.
Não vale um caminho sob o sol.
É o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha".
(Força Estranha/Caetano Veloso)

Perpétua Teles

E AÍ...

São mais de onze horas.
Desarrumei a cozinha.
?
Mudei a posição das coisas,
Tirei a estante do lugar.
Um cuidado me sobreveio
Emborquei as fotos.
Sentei, olhei o espaço.
Se em tudo analogia
No envolto ao branco,
Mesa vazia.
Silêncio indesejado.
Cozinha branca. Sonhei.
Combinei a geladeira com o fogão
Mesa com 12 cadeiras
Tantos sentidos.
Desfiz a mesa.
Retirei as cadeiras.
Quase cinco metros de toalha branca
Enrolei-a nos braços
Joguei-a no sofá.
Minha toalha branca
Tão difícil de encontrar.
Parei.
Estranhei.
Fotos emborcadas.
O que fizeram com minha família?!...

Perpétua Teles

SÁBADO

Paixão
Desejo
Tensão
Numa quase entrega
Último dia
Um sábado que não se fez.
Intento
Fuga
Partida
Cisão
Um sábado que não se fez.
Suplício
Cárcere
Razão
Num sábado que não se fez.
tempo
Longo tempo.
Tenção
Por um sábado que se insiste...
Acontecer.
Esperança
Desejo
De um sábado que não se fez.
Onde está você
sábado que não se fez
dia de sábado?
Te quero, preciso
Anseio todo seu clarão
Furacão de luz.
Um dia de sábado.
Primeiro sem último.
Ilusão.

Perpétua Teles

PARTES...

Talvez não saiba exatamente o porquê,
apenas que a vida acontece
e com ela vamos tecendo história:
a que sonhamos
planejamos
não imaginávamos e veio
não queríamos
queríamos tanto...
aquela que passou
se faz agora
a que está por vir...
a que admitimos
permitimos
omitimos
assumimos
negamos...
a que queremos espalhar em todos os cantos
uma história
talvez uma mais
Um lamento que foi melodia
Senilidade?
uma a mais...em partes...
Uma necessidade
Profunda
Estranha
Dolorida
Que se deseja vida
Pois sempre vida foi
Perpétua.

Perpétua Teles

MADRUGADA

A hora
Talvez um segundo a mais
do tempo que Gramsci pensou onde o "velho não morreu e o novo não pode nascer".
A hora
Noturna.
Em sua densa escuridão
A hora
O minuto
O segundo
Um reflexo
Vertigem?
Ausência?
Silêncio...
Solidão?
Multidão?...
Certeza.
Já é dia.
A luz está por vir.
É meia noite.
Um segundo a mais.
É dia, eu sei, entre a densa escuridão da noite
O dia já se faz sentir.
Onde talvez o velho não tenha que morrer
E o novo não deixe de surgir
Pois não pode negar-se a si mesmo.
O tempo se faz hora,agora
À meia noite.
Um segundo a mais
Uma chance a mais para a vida
Um segundo a mais
Vem Vida!
Bom dia!

Perpétua Teles
De repente,nas experiências que Sócrates viveu para afirmar:"tudo sei que nada sei,
parece-me duro compreender vivendo em minhas estranhas... nada e tudo.
E a vida? Também é fato que dela nada sei.
Saber isso às vezes leva-me a um desalento, aparente caos.
Fragilidade do ser. Ser?... o que é?
Já não de repente
penso no que Cristo conhecia para afirmar:"Eu sou"
Um entendimento que vai além da compreensão possível
No entanto...
Eu sou... sim eu sei o que sou.
Tranquilidade e conforto não parecem mais distantes...
E aí é natal... então é natal...agora mesmo...depois de dois mil e sete anos, depois dos meus quinze anos, depois de dois recentes anos.
Nas incertezas acreditar produz encanto...
Abre o coração... meu coração... campo minado,
É possível, então, renascer de um parto doloroso e difícil.
Vida.
Natal...

PROCURA

Quem dera
Aliviar.
Estar absorta de covardias.
Tirar o nó da garganta.
Esquecer.
Praticar uma ginástica espiritual
Nas mãos de Deus.
De modo fetal
Inteirinha em suas mãos
Respirar.
Do mesmo modo
Um colo encontrar
Encostar a cabeça
Confiar
Dormir.

Perpétua Teles

SERÍAMOS NÓS...

Seríamos nós...
Se não existisse um SE em minha história
Teria acordado hoje às cinco horas da manhã
Uma voz firme e determinada
Convidar-me-ia a levantar.
Tomaria o café da manhã
Com minha família completa.
Sairíamos...
Trabalho.
Para ele seria dividir
Multiplicar sonhos, esperanças,
Projetos e convicções.
Um amigo para chamar de irmão
Alguém para considerar.
Trabalho. Escola
Com o relato de uma cena banal diria sou feliz
Chegaria a hora do almoço
Tempo para um breve "vivo para vocês"
E à noite já a meia noite
Olharíamos nossos filhos a dormir
Agradecidos contemplaríamos
A perfeição do amor de Deus.
Satisfação.
Ouviria tudo.
Contaria tudo...
Lutas, desafios, realizações.
Um tempo para estar no braço...
Um tempo para um abraço
Conversaríamos em oração.
E envoltos num profundo sentimento de segurança e paz
Dormiríamos com a sensação de quem fez a sua parte.
Idealizaria a vida anos depois...
Se não existisse um SE em minha história
O tempo não seria futuro do passado
Tão confuso.
Impossibilidade.
Se não existisse um SE em minha história
Na foto
Nós seríamos uma realidade.
O abraço, os olhos a sorrir
As mãos dadas.
Simbiose.
Aliança.
Oh Deus! Como acreditar que não é mais possível
Apenas porque alguém se deu o direito?
Que um instante corresponda a algo tão profundo...
Tão extenso, intenso, cruel.

QUANDO UMA HISTÓRIA NÃO ACABA E BRUSCAMENTE É INTERROMPIDA FICA,POR MUITO TEMPO, PRESA EM NOSSA ALMA SEM PODER SER REVIVIDA...

Perpétua Teles

Acesse informações sobre o caso(RINALDO MONTEIRO) em: http://www.bluenet.com.br/correiosetecolinas/2005/06/04/geral1.html

(Caso exibido no Programa Linha Direta da Rede Globo em 25/05/2006 - http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GHE0-4625-227351,00.html)