Mulher ao espelho
Cecília Meireles
Hoje que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz.Já fui Maria e Madalena.Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingidado meu cabelo, e do meu rosto,se tudo é tinta: o mundo, a vida,o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira a moda, que me vai matando.Que me levem pele e caveira ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,olhos, braços e sonhos seus e morreu pelos seus pecados,falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,do alto penteado ao rubro artelho.Porque uns expiram sobre cruzes,outros, buscando-se no espelho.
Cecília Meireles
Hoje que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz.Já fui Maria e Madalena.Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingidado meu cabelo, e do meu rosto,se tudo é tinta: o mundo, a vida,o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira a moda, que me vai matando.Que me levem pele e caveira ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,olhos, braços e sonhos seus e morreu pelos seus pecados,falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,do alto penteado ao rubro artelho.Porque uns expiram sobre cruzes,outros, buscando-se no espelho.
Flor de poemas, Editora Record, 1998 - Rio de Janeiro, Brasil