Professora Maria Perpétua Teles Monteiro
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domingo, 24 de fevereiro de 2008

Furto de flor/Drummond

Renoir, Pierre-Auguste. "Primavera

"Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim, nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:- Que idéia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!"
Carlos Drummond de Andrade, Contos plausíveis (s/ data)
Disponível em:http://dias-com-arvores.blogspot.com/2005/05/furto-de-flor.html

Esse texto tem me ensinado fortes lições.

Não tenho dificuldade para pensar a flor.

Sem espanto por ela sou capaz de chorar.

Já tive em minhas mãos uma roubada.

Não a furtei. Furtaram-na de mim.

O bem, o maior bem.

Uma vez furtado.

Como devolver? O que devolver?

Melhor não furtar

A flor.

Como compreender

O furtar a flor?

Como aceitar o calar da beleza...

A falta...

dA VIDA...

dA flor?

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