Professora Maria Perpétua Teles Monteiro
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domingo, 15 de março de 2009

DIA DA POESIA NACIONAL(14 de março)

POESIAS X POEMAS. O QUE DIZEM? O QUE SINTO?



“Crítica da vida”(Mathew Arnold);”voltada para mensagem”(Roman Jakobson); “uma alegria eterna”(Keats); “palavras olhando para si mesmas”(Cecília Meirelles); “ um fingimento deveras”(Fernando Pessoa); “estrela que leva a Deus”(Victor Hugo); “ se faz com palavras e não com idéias”(Mallarmé); “palavras postas em músicas”(Dante); “ o que o meu inconsciente me grita”(Mário de Andrade); “ a descoberta das coisas que eu nunca vi”(Oswald de Andrade).

Não é difícil perceber que inúmeras tentativas têm, ao longo da história, buscado conceituações para poesia e poema. Poesia e poema são realmente coisas distintas? São coisas que se identificam? Quem são, em realidade, poesia e poema?
Em seu trabalho “Conceito de poesia” Lyra (1986) assim responde:

“Identificados pela consciência ingênua, poema e poesia são, e sem mais dúvida, coisas diferentes".

O poema é de modo mais ou menos consensual, caracterizado como um texto escrito (primordialmente, mas não exclusivamente) em verso. A poesia, por sua vez, é situada de modo problemático em dois grandes grupos conceituais: ora como uma pura e completa substância imaterial, anterior ao poeta e independente do poema e da linguagem, e que apenas se concretiza em palavras como conteúdo do poema, mediante a atividade humana; ora como condição dessa indefinida e absorvente atividade humana, o estado em que o indivíduo se coloca na tentativa de capitação, apreensão e resgate dessa substância no espaço abstrato da palavra.
O poema depois de criado, existe por si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser; propriamente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se a percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta(ou não) objetiva-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho do indivíduo-poeta.
Este é o problema fundamental: se a poesia está no mundo originalmente, antes de estar no poeta ou no poema - e isso pode ser comprovado pela simples constatação popular de que determinados objetos/situações do mundo são poéticos – ela tem a sua existência literária decidida nesse trânsito do abstrato ao concreto, do mundo para o poema, através do poeta, no processo que a conduz do estado de potência ao objeto. Então se pode dizer que a existência primordial da poesia se vincula à daqueles seres que exercem algum influxo sobre o sujeito que entra em contato com eles e o provocam para uma atitude estética de resposta, consumando o trânsito – da percepção à objetividade - mediante uma forma qualquer de linguagem.
Um fato é que o que está no mundo pode provocar alguma coisa no ser humano. Em mim, em especial, as sensações, emoções, dores e sentidos que ainda me provoca o primeiro poema que absorvi - uma realidade absorvida pelo poeta:

"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure".

(SONETO DE FIDELIDADE-Vinícius de Moraes)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
LYRA, Pedro. Conceito de poesia.São Paulo. Ática,1986.

Acesse poesia brasileira: http://www.releituras.com/viniciusm_fidelidade.asp;
http://www.brasilcult.pro.br/estudos/literatura/poesia_brasil.htm

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